segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Fingir que está tudo bem


fingir que está tudo bem



fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido


com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro


do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir


que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde


os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas


não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão


desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós


olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver


sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de


medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto


dentro de mim: será que vou morrer? olhas-me e só tu sabes:


ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:


amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um


oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.


José Luís Peixoto

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Hoje é outro dia daqueles...em que olho para trás e o tempo já me levou as sensações